Como é que a gente consegue lidar com as dores da alma? Como é que a vida vai seguindo dia após dia quando perdemos alguém que amamos e ainda é preciso seguir também com uma gravidez? O tempo cura mesmo? A gente se transforma mesmo?
A história: Beatriz está grávida e espera o momento certo para contar para o marido, mas a ocasião não surge e nesses poucos dias de intervalo após a confirmação, Cristiano morre, deixando-a entre perder um vínculo e construir outro. Vamos então acompanhar o dia a dia dessa mulher a partir das suas semanas de gestação, lidando com o luto, reorganizando a história com a própria mãe, entendendo o que fazer com as amizades, descobrindo quem ela é agora e quem ela vai querer ser num futuro próximo, mas também sentindo uma raiva gigante dentro de si que não sabe bem como e para quem direcionar, afinal a gestação não era pra ser aquele momento de plenitude?
Porque ler: Tenho pra mim que o luto é tipo um limbo. Você não tem certeza do que está acontecendo em você. Às vezes tristeza seguida de fúria, às vezes só fúria ou só tristeza. Dependendo do caso, alguma culpa, um vazio. Geralmente tudo isso junto. E a vida correndo lá fora. O tempo meio perdido da sua velocidade normal, da realidade que apontamos como normal. Porque realidade, né, quem vai saber o tempo dela de verdade? Essa aceleração louca do mundo contemporâneo? Acho que não.
Nesse livro, o tempo é o das semanas de gravidez de Beatriz. Eu mesma só passei a entender o meu tempo interno e percebê-lo realmente quando engravidei. O tempo é visível numa gravidez e depois, no crescimento de uma criança.
Mas Beatriz está entre o tempo da gravidez e o limbo do luto. Uma enxurrada de transformações. Uma gravidez com 9 meses completos dura cerca de 40 a 42 semanas. Um ano são 52 semanas.
Longo, quando pensamos assim. Bastante tempo para esperar. E para pensar em quem se foi.
E Beatriz vai vivendo o dia após dia, as mudanças, os desejos de si mesma, não só os desejos hormonais.
É um livro lindo que se move com muita destreza nesses limbos sobrepostos. Ah, sim, a gravidez é limbo também. Tantas perguntas e tantas metamorfoses nesse período. O papel de filha que será revisto, o amor dos pais que finalmente se transforma num respeito com R maiúsculo porque aí entende-se o visceral e o difícil dessa tarefa. Percebe-se as limitações todas também. E a vida correndo lá fora. E a gente querendo fazer parte desses mundos todos, Natal, presentes, viagem. Como é que a gente dá conta?
Beatriz vai nos mostrando e seguindo sem saber pra onde está indo. Às vezes só seguindo mesmo.
Cuidados com a leitura: Este é um livro muito fluido e rápido de ler. É um livro curto, mas que trata de assuntos enormes como luto, suic1d10 e desamparo. Portanto é importante atentar-se para os devidos gatilhos, se for o caso.
Sobre a autora: Silvana Tavano nasceu em São Paulo, em 1957. Atuou por mais de 20 anos como jornalista, depois outros vinte anos e muitos prêmios como autora de livros infantis e juvenis. Em 2022 lança esse primeiro romance, finalista do Prêmio São Paulo de Literatura. Em 2024 lançou Ressuscitar Mamutes, até o momento também finalista do Prêmio São Paulo de Literatura. Seus livros foram publicados na Argentina, México, Japão, China, Itália, Alemanha, Suécia e Turquia.

Ficha técnica:
Título: O último sábado de julho amanhece quieto
Autora: Silvana Tavano
Editora: Autêntica Contemporânea
Disponível na versão física e e-book